Base de dados mundial de espécies invasoras
Uma base de dados com listas de espécies exóticas e invasoras de quase 200 países está online e pode ser consultada por todos.
A vespa-asiática tem assustado as abelhas (e os apicultores) em Portugal. Esperam junto das colmeias que as abelhas cheguem com pólen, capturam-nas, cortam-lhes a cabeça, as patas e o ferrão e levam-nas até aos seus ninhos no cimo das árvores. Depois, comem-nas. Os primeiros ataques terão acontecido em 2011e já se contaram milhares de ninhos no país. Esta vespa é também uma das espécies invasoras em Portugal apontadas por uma base de dados online de espécies exóticas e invasoras com listas de 198 países. Esta é a primeira base de dados tão abrangente deste género. Agora, um artigo científico na revista Scientific Data é o cartão-de-visita deste catálogo, onde se destaca a informação relativa a 20 países.
A base de dados Registo Global de Espécies Introduzidas e Invasoras (GRIIS, na sigla em inglês) está online desde 2016 e pode ser consultada por todos. Lá encontram-se listas com espécies exóticas (que foram transportadas do seu habitat natural para outros sítios) e invasoras (que vêm de outro local, reproduzem-se muito rapidamente e têm impacto no ambiente ou na economia) de quase 200 países. Esta base de dados tem informações das espécies como a taxonomia, o habitat, a origem, o impacto e as actualizações e fontes de informação. Para isso, houve editores (cientistas) para as listas de cada um dos países.
“É uma base de dados bastante completa das espécies exóticas e exóticas invasoras a nível mundial, pelo que serve de referência quando se procura informação sobre a espécie x ou y”, explica Elizabete Marchante. “É uma ferramenta importante em termos de gestão de espécies invasoras. Por exemplo, quando se pretende introduzir uma espécie num novo território, é essencial assegurar que não tem um comportamento invasor de forma a evitar problemas no futuro.” Além disso, destaca a abrangência deste catálogo: “Há muitas bases de dados disponíveis, mas a maioria são nacionais ou regionais, e de um grupo taxonómico específico, pelo que não se encontra informação reunida num só local, com a excepção do Compêndio de Espécies Invasoras (CABI), mas que tem sobretudo informação de exóticas invasoras.”
O artigo científico destaca ainda que “o transporte e o comércio transnacional é o principal factor das introduções de novas espécies.” Depois, apresenta-se a situação em 20 países, onde se contabilizaram 6414 espécies e houve 11.320 registos. Por exemplo, se na Mongólia se contabilizaram 77 espécies, já na África do Sul contaram-se 2107 espécies. Das mais de seis mil espécies dos 20 países, 25% tiveram um impacto negativo na biodiversidade e nos ecossistemas.
E o que é mais preocupante? “Representam uma ameaça para as espécies autóctones, ocupando o seu habitat”, diz Helena Freitas, bióloga da Universidade de Coimbra. “Há ainda um impacto económico evidente uma vez que se tratam de espécies que, por norma, não têm valorização económica e que substituem outras que o têm. Algumas espécies invasoras têm também impacto na saúde pública.” Hélia Marchante ainda destaca outra situação: “A falta de conhecimento e sensibilização em relação aos problemas que estas espécies causam, tanto por parte dos cidadãos em geral como de alguns profissionais que lidam com espécies exóticas, leva a que por vezes não se evitem o uso de espécies invasoras e outras vezes se agravem os problemas por elas causados.”
Por isso, no artigo refere-se uma forma de se identificar o problema: “Uma das soluções adoptadas pelos países para facilitar a gestão das invasões biológicas é produzir e manter listas nacionais de espécies invasoras e invasivas.