A ‘floresta de cabeça para baixo’ que está ameaçada
Como destruição do Cerrado ameaça ‘floresta de cabeça para baixo’ e abastecimento de aquíferos
Segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado tem papel central na distribuição das águas que abastecem boa parte do Brasil. É nele que nascem vários dos rios que integram seis das principais bacias hidrográficas brasileiras - Parnaíba, Paraná, Paraguai, Tocantins-Araguaia, São Francisco e Amazônica -, e mais de cem espécies diferentes de frutas, das quais apenas 40 são exploradas comercialmente.
O equilíbrio desse ecossistema, contudo, está ameaçado pelo avanço da agricultura em larga escala.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 20% das espécies de plantas e animais exclusivas ao bioma já foram extintas, e ao menos 137 espécies de animais da região correm o risco de desaparecer.
"A gente não tem mais aquele habitat natural, porque esse tipo de vegetação deu lugar às lavouras: à soja, ao milho, ao feijão, ao arroz - e eles não têm a mesma função ecológica do Cerrado", alerta Mauro Alves de Araujo, técnico agrícola especializado na identificação de espécies vegetais.
Boa parte das últimas áreas de Cerrado se encontra na região conhecida como Matopiba (que engloba trechos do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) - considerada uma das últimas fronteiras agrícolas do país.
"A gente está trocando árvore por herbácea, e isso na matemática (da ecologia) é cruel", acrescenta Araujo.
O Cerrado é um dos biomas mais antigos e biodiversos do mundo. Começou a se formar há pelo menos 40 milhões de anos e abriga centenas de espécies de animais e plantas que só existem lá.
Para sobreviver às longas secas que ocorrem na região, muitas árvores locais desenvolveram sistemas de raízes extremamente profundas e ramificadas.
Graças a essas raízes, várias espécies do bioma jamais perdem as folhas, nem mesmo no auge da estiagem.
As raízes podem ser muito mais extensas que as copas das árvores, o que faz com que o Cerrado seja conhecido como "floresta de cabeça para baixo".
Árvores presentes no bioma - entre as quais buriti, pequi, jatobá e baru - garantem ainda uma dieta rica para os habitantes da região.
Veja aqui o vídeo.