Caatinga e Semiárido
O ecossistema da Caatinga cobre uma área de 844,5 mil quilômetros quadrados, equivalente a 11% do território brasileiro. Para se ter uma ideia, o Estado de São Paulo tem 242,2 mil quilômetros quadrados, menos de um quarto do tamanho da Caatinga. A França, o maior país da Europa Ocidental, tem 547 mil quilômetros quadrados, o que equivale a dois terços do tamanho da Caatinga. Trata-se, pois, de uma área enorme, totalmente brasileira, com vegetação endêmica, isto é, que só existe lá.
Essa área da Caatinga se expande pela maior parte dos Estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Cobre também o Norte de Estado de Minas Gerais. A Caatinga está presente, portanto, em nove estados brasileiros. É preciso não confundir Caatinga com Semiárido. Enquanto Caatinga é um conceito natural, um ecossistema, o Semiárido brasileiro é um conceito político, delimitado legalmente por meio de Portaria do Governo (embora também exista definição natural para o clima do Semiárido). Por isso, o Semiárido tem sido redefinido ao longo do tempo, para atender a pressões políticas locais e regionais.
O Semiárido, entretanto, envolve todo o território da Caatinga e mais aqueles municípios que atendem aos critérios políticos definidos pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). De qualquer forma, existe muita coincidência territorial entre Caatinga e Semiárido.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) utiliza também o conceito de Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD), que incluem todo o Semiárido e também os municípios que lhe são limítrofes. Por isso, as ASD cobrem uma área superior à do Semiárido (ver o livro do CGEE e Funceme denominado “Desertificação, Degradação de Terras e Secas no Brasil”, publicado em 2016. Esse livro pode ser baixado gratuitamente na página do CGEE na internet.
A Caatinga é definida pelo seu clima, pelos seus solos e pela disponibilidade de água. Na Caatinga, assim como no Semiárido, chove pouco, os solos são rasos e é escassa a disponibilidade de água. A vegetação, incluindo a rasteira, os arbustos e as árvores, se desenvolveu ao longo de muitos milhares de anos, acostumando-se a crescer durante os poucos meses de chuva e a poupar água durante os meses em que não chove. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, cerca de metade da Caatinga já foi desmatada, para dar lugar a campos desertificados, cidades, obras de infraestrutura, áreas agrícolas e vegetações secundárias.
Na Caatinga do Nordeste, chove quatro meses por ano. Isto quer dizer que durante oito meses não há chuva, e as árvores, para continuarem vivas, precisam nutrir-se de reservas de água que acumularam durante as chuvas, ou então fingir-se de mortas, deixando cair as folhas e transformando-se em galhos secos. Por isso se chama de vegetação decídua, isto é, cujas folhas caem todo o ano. Quando as chuvas retornam, geralmente em janeiro, as árvores ressuscitam, novas folhas crescem e o verde explode em toda a paisagem. É o milagre da Caatinga.
Se o viajante passa pela Caatinga na época de seca e é impactado pelo seu aspecto triste, seco, sem vida, não pode imaginar que aquela mesma paisagem, dentro de alguns meses, pode ficar exuberante de vida.
A seca é o flagelo da Caatinga, das pessoas que aí vivem e dos animais. Nos tempos históricos, quando ainda não havia sido ocupado o território por colonizadores portugueses, os índios costumavam migrar na época de secas severas e chegar até o litoral, em busca de alimentos e água. Com a continuação, ao se implantarem atividades econômicas, as secas causaram muitas perdas na produção, reduzindo drasticamente os alimentos. Com isso, deixaram um rastro de desnutrição e mortes, tanto de pessoas como de gado e de animais silvestres.
A vegetação da Caatinga é predominantemente decídua, isto é, suas folhas caem todo o ano. Quando as chuvas retornam, elas ressuscitam, novas folhas crescem e o verde explode em toda a paisagem.
Água, tão abundante quando está chovendo, falta quando a chuva acaba. As estratégias dos agricultores, de cavar cacimbas nos leitos de rios ou de construir pequenos açudes, não funcionam em períodos de seca severa. É quando ocorrem as grandes migrações, que no passado deixavam mortos ao lado das estradas e ameaçavam as poucas áreas urbanas.
Os grandes açudes construídos pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) ou pelos governos estaduais, bem como aqueles construídos em cooperação entre o Governo e o Dnocs, ajudaram a afastar a falta de água e a permitir o crescimento de uma civilização na Caatinga. Essa civilização é permanentemente ameaçada pela pobreza e pelas secas plurianuais severas, que fazem secar mesmo os maiores açudes.
Esse é o ambiente do interior do Nordeste, de onde vêm as grandes famílias, inclusive no Estado do Ceará. É o ambiente onde existem, ou existiam, as grandes fazendas de criação de gado, combinadas com a plantação do algodão, do feijão, do milho e da mandioca. Onde se passaram histórias de brigas de família, de conflitos políticos, de coronelismo e paternalismo, de sucesso de poucos e de insucesso de muitos, de muita religiosidade, de criatividade para enfrentar os males das secas que periodicamente afetam a região.
Onde, pela inclemência dos elementos, os níveis de produtividade se mantêm baixos e são apenas suficientes para sustentar uma civilização pobre, onde a riqueza de alguns corresponde à pobreza de muitos. Onde o amor pela terra faz parte de cada pessoa e os que emigram sonham sempre que um dia irão voltar. Onde, no entanto, a busca pela sobrevivência e pela superação tem produzido exemplos de vencedores, que se destacaram em vários campos das atividades humanas.