Caracol-do-vulcão: o molusco de ferro que resiste ao calor escaldante
Descoberto originalmente em 2001 durante expedições no campo hidrotermal Kairei, no Oceano Índico, o caracol-do-vulcão, também conhecido como 'pangolin-do-mar', é uma rara espécie de molusco que habita regiões consideradas, por cientistas, como "origem da vida", por apresentarem condições de existência quase impossíveis. O animal se destaca por ser o único ser vivo que incorpora ferro em sua concha, é um verdadeiro gladiador da natureza e aguenta temperaturas de até 400ºC.
Habitante das profundezas entre 2,4 mil e 2, 9 mil metros, o caracol-do-vulcão (Chrysomallon squamiferum) é um espécime peculiar que retira sulfeto de ferro de seu ambiente para desenvolver uma “armadura” que reveste e protege completamente seu interior macio. Além disso, a criatura se sustenta de bactérias, que são processadas em uma grande glândula que, depois, absorve substâncias químicas como a pirita (também conhecida como ouro do tolo) e gregita, ganhando novas cores e formatos dependendo da região em que vive.
Essa propriedade é possível graças à combinação de íons de ferro e enxofre presente em locais vulcânicos, permitindo que seu esqueleto sobreviva a altas temperaturas, alta pressão, forte acidez e baixo oxigênio nos ecossistemas, surpreendentemente adquirindo particularidades magnéticas próprias dos materiais que os compõem.
DNA decodificado e riscos da espécie
Em maio de 2020, uma equipe de cientistas da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKUST) decodificou o genoma do caracol-do-vulcão pela primeira vez e anunciou que 25 'fatores de transcrição' colaboram com a produção de minerais de ferro. "Descobrimos que um gene, denominado MTP — proteína de tolerância ao metal — 9, mostrou um aumento de 27 vezes na população com mineralização de sulfeto de ferro em comparação com aquela sem,' disse o Dr. Sun Jin no estudo. "Esta proteína foi sugerida para aumentar a tolerância aos íons metálicos."
Segundo os estudiosos, os moluscos da "origem da vida" possuem os mesmos genes presentes em lulas e ostras e surgem para impulsionar não apenas os estudos sobre a criação da vida em fontes hidrotermais ou sobre a evolução do reino, mas também como uma potencial fonte de desenvolvimento para o setor industrial, já que a composição do animal poderia fornecer "insights" para a fabricação de armaduras e equipamentos mais resistentes, e para "remédios em potencial" no campo da medicina.
Atualmente, o caracol-do-vulcão integra a Lista Vermelha da IUCN como animal "em perigo", sugerindo ameaça de extinção. Isso foi formalizado em 2019 devido à alta procura de pontos de mineração em alto mar, visto que os recursos minerais de sulfeto polimetálico — que se formam em abundância perto dos caracóis que vivem em fontes hidrotermais — são valorizados por sua grande concentração de metais preciosos. Desde então, a espécie está em declínio acentuado nos campos Kairei e Solitaire, distribuídos ao longo da Cadeia Central do Índico.