Ave Jacupemba "produz" um dos cafés mais caros do mundo

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Ave Jacupemba "produz" um dos cafés mais caros do mundo

Ameaçada de extinção no município, ave Jacupemba é conhecida por “produzir” um dos cafés mais caros do mundo.

Pombo, galinha preta ou até o singelo apelido de Jacu. Assim é conhecida a ave de papada vermelha Jacupemba — de nome científico Penelope superciliaris — que anda circulando por ruas do Leme, na Zona Sul do Rio. Ameaçada de extinção no município, a espécie é conhecida por “produzir” um dos cafés mais caros do mundo.

A “produção” de café começa na alimentação desse comedor de sementes de frutas nas florestas. De acordo com o biólogo Izar Aximoff, em áreas com plantações de café, as melhores sementes servem como alimento para a espécie. Quando expelidas, deixam nas fezes resquícios do grão, que passam por um processo de limpeza e depois são torrados e moídos. Assim se tornam um café saboroso e bem valioso, que chega a custar mais de mil reais o quilo, na internet.

— A ave era considerada uma ameaça para o lucro dos cafeicultores, pois em certos cafezais chegava a comer até 10% da produção. Depois dessa descoberta, o Jacu passou de vilã a grande colaboradora do cafeicultor — explica Aximoff.

O biólogo conta que, hoje, a situação da ave no município do Rio é de risco, principalmente por conta da caça, pois sua carne serve para alimento. Mas, ainda assim, é possível encontrar algumas espécies em áreas verdes da Barra da Tijuca, na Zona Oeste; da Floresta da Tijuca, na Zona Norte; e do Jardim Botânico e do Leme, na Zona Sul.

Porteiro de um prédio no Leme, Sebastião Mariano, de 56 anos, trabalha há mais de 30 no mesmo endereço e diz que já viu inúmeras vezes a ave rondando a figueira que fica em frente ao edifício:

— Tem uma dupla que sempre vem, pela manhã, para comer os frutos da árvore e vai embora.

A doméstica Josefa Clementino, de 46 anos, que mora na comunidade do Chapéu Mangueira, no Leme, também vê a ave com frequência. Sem saber que a Jacu tem a capacidade de “produzir” um café valioso e que nada tem a ver com pombos, ela diz achar a espécie esquisita:

— Esses dias, eu conversei com a minha vizinha sobre ela, questionando o que era aquilo. É um bicho bem esquisito. Já vi muitas vezes por aqui. Pelo menos uma vez por semana, ele passa lá perto de casa, voando rápido.

Aximoff conta que, entre os anos de 1969 e 1973, espécies foram soltas na Floresta da Tijuca, para combater o processo de extinção que vinha acontecendo por conta da caça.

Um dos que fizeram parte desse grupo de caçadores foi o educador físico Leandro Martins, de 40 anos, que trabalha no Leme. Ele conta que, quando tinha de 14 para 15 anos, costumava caçar espécies como a Jacupemba. Hoje, ele admira as que circulam pelo local onde trabalha.

— Elas vêm aqui em alguns períodos do dia, para comer no pé de abacate. Agora, estão sumidas, porque não tem tido muitos frutos. São grandes e parecem mesmo com uma galinha.

Na Pista Cláudio Coutinho, na Urca, a Jacu é bem comum. Aximoff conta que a ave é muito importante para a natureza:

— Ela ajuda a reflorestar a cidade, já que, ao se alimentar de frutos e voar entre as áreas verdes, acaba por excretar sementes de grãos — explica o biólogo.

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