Aquecimento global e emissões de carbono

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Aquecimento global e emissões de carbono

O dia 22 de abril é considerado o Dia da Terra, data proposta pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, em 1970, para ser um momento de conscientização dos problemas gerados pela humanidade contra o Planeta e de reflexão sobre as medidas ambientais para proteger “nossa casa comum”.

No dia 22 de abril de 2016, diversos Chefes de Estado reuniram-se na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, para assinar o Acordo de Paris, aprovado na Conferência das Partes (COP-21), ocorrida em dezembro de 2015.

No total, 175 nações marcaram presença na ONU para assinar o acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

O presidente da França da época, François Hollande, afirmou que a humanidade deveria estar orgulhosa do acordo alcançado.

Mas uma coisa é assinar um documento e outra é colocá-lo em prática.

Não será uma tarefa fácil reduzir a principal causa do aumento das emissões de CO2 que são os gases emitidos no processo de produção e aqueles gerados pela queima de combustíveis fósseis, a produção de cimento, etc. O CO2, não é o único gas de efeito estufa, mas é o maior componente antrópico do aquecimento global.

O Acordo de Paris propõe manter aquecimento global bem abaixo de 2ºC, com vistas a 1,5ºC.

Mas isto é incompatível sem a descontinuação de combustíveis fósseis e sem redirecionar o crescimento econômico exponencial, que tem trazido muita degradação para o meio ambiente.

Antes da Revolução Industrial, no século 19, a concentração média de CO2 na atmosfera era de cerca de 280 partes por milhão.

Mas com o crescimento das atividades antrópicas, as emissões de gases de efeito estufa já fizeram a concentração de CO2 ultrapassar 400 partes por milhão (ppm), quando o limite seguro seria no máximo de 360 ppm.

O gráfico mostra que existe uma relação muito forte entre as emissões de carbono e o aumento da temperatura global.

Entre 1880 e 1900 a temperatura estava 0,2ºC abaixo da média da temperatura do século XX.

Entre 1901 e 1950 a média da temperatura ficou 0,15ºC abaixo da média do século passado e entre 1951 a 2000 ficou 0,15ºC acima da média.

Portanto, houve um aumento de temperatura, mas que alguns céticos consideravam como efeito natural.

Porém, o ano de 1998 foi o mais quente do século XX e ficou 0,63ºC acima da média secular.

E o que estava ruim, piorou muito no século XXI, pois a temperatura em 2015 ficou 0,90ºC acima da média do século XX, um acréscimo de 0,27ºC em apenas 17 anos.

Para os incrédulos, e surpreendentemente, os três primeiros meses de 2016 tiveram um aumento climático extremamente elevado, não antecipado por ninguém e nenhum modelo estatístico.

O aumento da temperatura em relação à média do século XX foi de 1,04ºC em janeiro, de 1,21ºC em fevereiro e de 1,22ºC em março de 2016, segundo dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).

Ou seja, em relação ao final do século XIX, o aumento da temperatura em 2016 está quase 1,5ºC mais elevada, o que é a meta de limite máximo de aumento da temperatura proposta pelo Acordo de Paris para o ano de 2100.

Não há dúvidas de que o aumento das emissões de carbono está relacionado ao aquecimento da temperatura da Terra.

O mundo ultrapassou uma fronteira planetária fundamental. Talvez o Acordo de Paris apresente medidas insuficientes e tardias (“too little, too late”). Como o mundo chegou a essa situação tão grave?

A resposta é simples.

Foi o crescimento demoeconômico exponencial que ultrapassou a capacidade de suporte da biosfera.

Com a Revolução Industrial e Energética o mundo iniciou uma fase de aceleração nunca vista desde o surgimento do homo sapiens.

O ano de 1776 pode ser considerado um marco, pois foi o ano em que James Watt aperfeiçoou a máquina à vapor, que impulsionou a indústria e deu o início ao uso dos combustíveis fósseis.

A despeito das desigualdades sociais, de 1776 a 2016, a população mundial cresceu 9,5 vezes e a economia global multiplicou por cerca de 125 vezes, conforme mostra o gráfico.

Thomas Malthus estava errado, pois os meios de subsistência cresceram mais rápido do que a população, reduzindo as taxas de mortalidade, melhorando as condições de vida e ampliando os direitos de cidadania.

Em 240 anos, o crescimento anual da população ficou em torno de 0,9% ao ano e a economia em torno de 2% ao ano.

Sendo que o período de maior crescimento demoeconômico ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial, quando a população passou de cerca de 2,5 bilhões de habitantes para quase 8 bilhões de habitantes em 2022 e a média anual de crescimento do PIB ficou acima de 3,5% ao ano.

O consumo de matérias primas e de recursos naturais cresceu de maneira exponencial. Este processo trouxe muito lucro para a humanidade, mas provocou grandes prejuízos para a natureza e a biodiversidade.

A COP-21 reconheceu que o aquecimento global gera acidificação dos oceanos, acelera a perda de solos férteis e eleva o nível dos oceanos, sendo um grande perigo para a civilização e o meio ambiente.

Porém, não abordou de maneira adequada as causas que geram este aquecimento que é o crescimento demoeconômico desregrado promovido pelo processo de acumulação de capital e riqueza.

Outro fator do aquecimento são as queimadas e o desflorestamento.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI) já registrou 16.417 focos de queimadas e incêndios florestais no Brasil em 2016, o que representa um aumento de 52% em relação ao mesmo período do ano passado.

O aquecimento global também provoca o desgelo dos polos e dos glaciares elevando o nível dos mares e tornando os oceanos mais revoltos.

A revolta do mar tem sido um fenômeno cada vez mais frequente. 

Em artigo publicado mês passado no periódico Atmospheric Chemistry and Physics Discussion, o cientista James Hansen e colegas (2016) afirmam que o aumento da temperatura em 2ºC pode ser extremamente perigoso, pois pode gerar super furacões e elevar o nível do mar, no longo prazo, em vários metros, ameaçando as áreas costeiras em geral, especialmente as mais povoadas.

Está cada vez mais evidente que não basta mudar a matriz energética, descarbonizar a economia e promover uma maquiagem verde no processo de produção e consumo.

É preciso, urgentemente, colocar na ordem do dia o debate sobre os meios de se promover o decrescimento das atividades antrópicas e o decrescimento das desigualdades sociais.

Senão, a estrutura que sustenta a civilização, pode colapsar e levar junto todas as conquistas do progresso civilizatório.

A economia depende da sustentabilidade e não o contrário.

Os desastres, geralmente, não são naturais.

Não é a natureza que está ameaçando o ser humano. O ser humano está se autodestruindo ao destruir a natureza.

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