Suplementos pode ajudar a restaurar a Grande Barreira de Coral
Os corais presentes nos recifes do planeta possuem seus próprios microbiomas, e os cientistas estão descobrindo como alimentá-los com “suplementos” probióticos, com o objetivo de preservar a existência e a saúde de recifes naturais no futuro.
Um coral inicia sua vida como uma larva nadando a esmo no oceano. Quando ela fica grande o suficiente, a larva afunda e se prende ao assoalhado oceânico — ou, se tiver sorte, a um recife. Depois de se instalar, ela começa sua multiplicação.
Corais de água rasa, feitos de diferentes organismos, são, em essência, colônias de pequenos animais colaborando com uma alga marinha conhecida como zooxantela, que alimenta o coral e ajuda a produzir o carbonato de cálcio que forma os recifes ao longo de milhares — ou até milhões — de anos.
Ainda que a simbiose entre os corais e a zooxantela seja algo já compreendido, os cientistas ainda estão começando a explorar as diferentes formas que os corais podem ter o auxílio de outros tipos de micróbios.
Os microbiomas dos corais podem ser afetados por mudanças no ambiente, como acidificação do oceano, aquecimento da água, eventos de branqueamento, assim como outros fatores, a maioria desencadeados pelas mudanças climáticas causadas pela atividade humana.
Ainda que seja necessário lidar com as mudanças climáticas, biólogos de conservação também estão estudando outras formas de mitigar danos que nós já causamos – nesse caso, um jeito de restaurar recifes de coral com probióticos.
O “Simulador Marinho” que cria corais em laboratório
Nas águas da Grande Barreira de Coral (GBC), os problemas estão se tornando mais intensos; enquanto isso, na cidade de Townsville, os cientistas usam tanques cheios de corais jovens, num esforço para garantir o futuro da barreira.
Esses corais são alimentados com probióticos, na esperança de que, algum dia, esse processo permita aos pesquisadores o crescimento de milhões de corais saudáveis com o uso de aquacultura, possivelmente trazendo uma restauração em larga escala na GBC, atualmente fora do nosso alcance.
Lone Høj é a ecologista microbial liderando a pesquisa em probióticos de coral, no laboratório “Simulador Marinho”, do Instituto Australiano de Ciências Marinhas.
Høj e sua equipe isolaram 850 cepas de bactérias de 6 espécies de coral da GBC: Acropora tenuis, A. millepora, A. hyacinthus, Platygyra daedalea, Porites Lobata e Goniastrea retiformis.
“Nossa coleção de cultura de bactérias de corais cobre uma alta diversidade taxonômica, com mais de 50 gêneros de bactérias representados”, contou ela, em uma entrevista ao portal australiano Science Alert.
Os cientistas estão examinando uma seleção de bactérias nesta enorme coleção em busca de características que possam sustentar a saúde e o desenvolvimento de corais criados por humanos.
No momento, as características que eles buscam nas bactérias probióticas incluem atividade antibacteriana, formação de biofilme no muco de coral e produção de enzimas digestivas. A expectativa é de que essas qualidades ajudem o coral a manter seu microbioma saudável após o término do curso probiótico. A análise detalhada dos estudos está em andamento.
No laboratório, a desova de corais ocorre anualmente, então a oportunidade dos cientistas realizarem experimentos com as larvas. A primeira ocorreu em 2021.
A simulação dos corais
Após a fertilização, as larvas que se instalam no fundo dos tanques são expostas a cepas individuais de bactérias probióticas, numa configuração controlada.
Em seguida, a equipe estuda seu crescimento, a densidade dos simbiontes (algas e bactérias), as respostas de imunidade e o microbioma, especialmente a longo prazo, depois que o probiótico deixa de ser adicionado.
Depois do primeiro estudo, os cientistas estão se preparando para a desova de 2022, onde vão repetir o experimento, mantendo quase as mesmas condições, mas adicionando um conjunto diverso de bactérias na mistura probiótica.
Høj disse que o próximo experimento também vai analisar os efeitos a longo prazo do probiótico em corais cultivados em laboratório à medida que amadurecem, e qual é o potencial desse probiótico em particular para melhorar a resiliência de um coral sob estresse. A equipe também vai explorar diferentes estratégias para fornecer o probiótico a corais jovens.
De acordo com Høj, a pesquisa pode um dia levar a probióticos que possam ser usados no ambiente natural dos recifes, ainda que haja dúvidas acerca da viabilidade dessa ideia. Por enquanto, os probióticos em desenvolvimento são destinados ao uso em laboratórios e aquicultura, e apenas para espécies da GBC.