Planta rara é descoberta na Serra da Mantiqueira
Planta parecida como cogumelo, é endêmica da Serra da Mantiqueira, não é capaz de produzir seu próprio alimento sozinha, e não possui folhas e nem faz fotossíntese.
Com 40 anos de formado, o biólogo Edelcio Muscat ainda não havia se deparado com uma planta parecida com a que encontrou em fevereiro de 2020 na Serra da Mantiqueira, em São Paulo. Uma planta parecida com um cogumelo, de cor azul e laranja, sem folhas e com a parte superior parecida com um cone achatado.
A planta, popularmente conhecida como lanterna de fada, foi encontrada durante um monitoramento de fauna realizado por Muscat, que assina a descoberta junto com outros pesquisadores na edição de outubro do ano passado da revista científica Phytotaxa.
“Essa flor é extremamente rara e pouco conhecida, quase ninguém conhece e quando as pessoas encontram podem até confundir com fungos porque são pequenininhas”, afirma Edelcio, que é coordenador da ONG Projeto Dacnis, responsável por atuar na preservação, pesquisa e educação na Mata Atlântica.
Após fotografar a planta – que é bem difícil de achar, pois costuma ficar em áreas com material em decomposição, – Edelcio e equipe resolveram buscar mais informações sobre a inusitada planta e disponibilizaram imagens da espécie em um grupo de biólogos. Nessa busca, conheceram o botânico Mathias Erich (UFPR), que identificou e alertou sobre a raridade encontrada. Desta parceria resultou o artigo científico que apresentou a nova espécie – a Thismia mantiqueirensis – à ciência. O nome é uma homenagem à Serra da Mantiqueira, local onde foi encontrada.
Um gênero bem diferente
A planta pertence ao subgênero ophiomeris, que no Brasil é representada por 13 espécies. A maioria se encontra na Mata Atlântica, mas também existem espécies no Cerrado e na Amazônia.
Um estudo anterior, publicado em 2020 na revista científica “Botanical Journal of the Linnean Society”, realizou uma análise de dados moleculares, no qual foram comparadas sequências de DNA de várias Thismias. Como resultado, sugeriu-se que o gênero é parafilético, ou seja, não é possível saber sua origem e, apesar das plantas serem morfologicamente semelhantes, elas podem ter origens diferentes. “A ancestralidade dessa espécie ainda não está bem resolvida e é provável que ela tenha vindo de vários ramos distintos”, explica Mathias Erich, primeiro autor do estudo.
As plantas do gênero Thismia, além de encantadoras, possuem uma característica marcante: elas são micoheterotróficas, ou seja, não possuem clorofila, o pigmento que dá coloração verde nas plantas e responsável pela fotossíntese. Por isso, a alimentação da planta provém de uma associação simbiótica entre a planta e fungos. Essa relação é benéfica para ambas as partes. A Thismia e os fungos se juntam para realizar trocas de substâncias e, se possível, habitar o ambiente. “Elas estão juntas como se estivessem de mãos dadas”, explica Erich.
“Considerando que a Mata Atlântica é uma das regiões mais ricas e mais biodiversas do Brasil, é muito provável que venham aparecer várias outras espécies novas, novos registros ou espécies raras e ameaçadas na Serra da Mantiqueira”, conta o botânico.
A expectativa de encontrar mais espécies seria essencial para mudar a classificação da planta na União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), no qual a espécie atualmente apresenta dados deficientes. Descobrir uma Thismia é um achado e mostra a importância de conservar ambientes naturais. O estudo aponta que o local onde a planta foi encontrada costuma ser usada para o ecoturismo e isso pode trazer problemas na sua conservação. Por isso, uma das alternativas previstas para evitar esse problema é conscientizar a população e visitantes da Serra da Mantiqueira, para não retirar plantas, animais ou troncos do local.