O animal mais pesado da história - Perucetus
Há 16 anos, Mario Urbina viajava com um amigo em uma caminhonete pelo deserto de Ocucaje, em Ica, no sul do Peru. Foi quando eles passaram por uma colina rochosa que chamou sua atenção.
Urbina pediu ao motorista que se aproximasse do local, mas ele se negou. Ele pediu então que o deixasse sair do veículo e seguir sozinho.
O motorista novamente recusou, fazendo com que Urbina saísse pela janela e caminhasse até a colina – segundo conta em entrevista à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Ao chegar ao local, ele encontrou “uma pedra rosada” que, na verdade, era uma vértebra do já famoso Perucetus colossus – um cetáceo que viveu há cerca de 39 milhões de anos no mar, onde hoje fica o Peru. Com massa corporal estimada em cerca de 200 toneladas, ele pode ter sido o animal mais pesado de todos os tempos, superando até mesmo a baleia-azul.
Nos últimos anos, Urbina – agora com 61 anos de idade – e uma equipe do Departamento de Paleontologia de Vertebrados do Museu de História Natural da Universidade Nacional Maior de São Marcos de Lima, no Peru, desenterraram 13 vértebras, quatro costelas e um osso da pélvis daquele basilossauro. Estima-se que o animal tivesse 17 a 20 metros de comprimento.
Urbina fez a descoberta sem nunca ter estudado paleontologia.
Na verdade, ele iniciou na profissão de forma amadora nos anos 1980 e ficou “apaixonado pelos fósseis”, segundo conta. E, no início de agosto, um artigo publicado pela renomada revista científica Nature sobre o cetáceo peruano pré-histórico chegou a todas as partes do mundo.
A BBC News Mundo conversou com Mario Urbina sobre seu trabalho e sobre a fascinante descoberta do Perucetus colossus. Esta é a entrevista.
Por que a descoberta deste animal pré-histórico foi tão extraordinária?
Foi uma das minhas descobertas mais estranhas.
A vértebra tinha uma cor típica dos ossos da época [eoceno médio, 39 milhões de anos atrás], mas também era grande demais.
Este animal é extraordinariamente grande para a época e não há antecedentes de animais deste tamanho. Para carregar cada vértebra, são necessárias seis pessoas.
Quando o encontrei, eu sabia que não havia animais grandes como este. Por isso, sabia que era uma grande descoberta.
Além disso, o osso não tem poros, parece uma rocha, parece mármore. Isso fez com que ninguém acreditasse em mim.
Por isso digo que é o equivalente a encontrar Godzilla. Levei quatro anos para convencer a comunidade científica de que este animal existia. E estou há seis anos escavando.
Nas últimas duas vezes em que fui [ao lugar da escavação], não encontrei um único osso, nem uma lasca daquele animal. E isso é dinheiro jogado fora. Eles acreditam cegamente em mim, mas, às vezes, também me equivoco e perco dinheiro.
Agora, por que não o encontraram em outras partes do mundo? Porque talvez ele fosse endêmico do Peru.
A região é uma cordilheira que corre paralela ao litoral e o mar entra no continente, inundando todo um vale entre as montanhas.
Os animais aproveitavam Ocucaje devido a estas condições. Era fechado ao mar aberto por uma cadeia de montanhas, formava grandes lagoas com águas calmas e pouco profundas e não havia correntes, nem marés fortes.
As migrações de sardinhas entravam nesse vale porque havia bastante comida.
Eram locais ideais para ter filhotes ou conhecer um parceiro. Era um grande hotel para toda a fauna do Pacífico. Agora, é o meu escritório.
Sou especialista no cenozoico [era que começou há cerca de 66 milhões de anos) de todos os animais marinhos. Sejam eles invertebrados, sejam baleias. Resgato a todos e adoro todos eles.
E fazemos um trabalho prévio de geologia. A carreira é multidisciplinar. Não é que eu recolho a rocha e a levo para casa. Eu trago os geólogos e, com todos eles, defino a posição dos fósseis e publico [o estudo].
É preciso saber quando caiu morto este infeliz [animal]. Para isso, preciso de todo um estudo das camadas geológicas. Isso leva anos.
A antropologia é risco. Procurar um fóssil é risco. Existem pessoas que caminham por 30 anos e não encontram nada.
E não são só as escavações, que são feitas em rochas e não em terra macia. Depois, é preciso limpar e transportar os fósseis. Leva meses para limpar um fóssil.
Para tudo isso, preciso procurar dinheiro. Gasto muito dinheiro de outras pessoas, mas não do Estado. E, agora, o Estado tem seu melhor embaixador e, para ele, sai de graça. O mundo inteiro está falando do Peru devido a este fóssil.
Como era o Perucetus colossus?
- Ele viveu há cerca de 39 milhões de anos.
- Media de 17 a 20 metros.
- Seu peso total era de cerca de 200 toneladas.
- Ele pesava de 5,3 a 7,6 toneladas apenas de massa óssea.
- Cada vértebra pesava mais de 100 kg.
Não classifico minhas descobertas por isso [antiguidade ou tamanho].
Este é mais importante porque fez com que os peruanos se unissem por uma pilha de ossos que nem sequer tem crânio. Eu não tinha isso nem em sonho.
Eu apostava que ele seria espetacular para o mundo científico. Mas não imaginei que os peruanos fossem ficar malucos por isso.
O fóssil reflete um pouco o que é o Peru, único, grande, misterioso, controverso.
Quando o encontrei, eu conseguia subir o morro. Ele está em uma parede vertical, de uma colina que pode ter 18 metros de altura, de rocha sólida como cimento.
Agora, não consigo nem chegar até o fóssil. Eles precisam me levar carregado, porque estou uma vergonha, minhas pernas não conseguem mais subir [Urbina anda com o auxílio de uma bengala]. Não tenho dentes.
Sabe quantas vezes já caí do morro? Está na vertical. Tivemos que contratar uma escavadora para fazer uma rampa.
Gosto da quantidade de crianças que vêm trazendo seus pais e os pais trazendo seus avós.
Verificar se ele era herbívoro ou se tinha dieta dupla. É um mistério. Primeiro, deixe-me encontrar a cabeça e os dentes.
Não gosto de especular. Meus colegas fizeram um estudo de quanto ele pode ter medido, mas e se os ossos que faltam mudarem o tamanho? O que acontece se mudar o tamanho das vértebras?
Você já não pode fazer o mesmo cálculo. Mas que era gigantesco, era gigantesco.
Para procurar a cabeça do Perucetus?
Não consigo imaginar que a cabeça esteja ali, isso é uma casualidade. Isso já é sorte.
Mas sei que preciso continuar até me convencer de que não há mais [ossos].