Aqui não chove há 400 anos
E não, aquelas pessoas na imagem não andam por Marte. Mas 'levam-nos' ao lugar mais árido da Terra, onde há maiores semelhanças com o planeta vermelho.
O Rali Dakar passa por lá desde 2009. Ernesto Guevara de la Serna atravessou-o a custo, numa viagem pela América do Sul muito antes de ganhar fama como guerrilheiro Che Guevara. E o céu é tão limpo que o Sol e o Espaço são 'convidados especiais', o primeiro através da maior central solar da América Latina, do tamanho de 200 campos de futebol, e o segundo por via de um enorme telescópio, composto por 66 antenas de alta precisão, cujo objetivo é estudar o Universo. Não há cenário na Terra com melhor visibilidade do azul celeste do céu, dizem os especialistas.
Estas pistas e as imagens que pode ver na galeria em cima conduzem-nos ao deserto de Atacama, no Chile, uma das regiões mais secas do planeta. Em certas zonas no coração deste pedaço de terra maior do que Portugal, não chove há 400 anos, ou até mais, pois só no século XVI se começou a registar este dado meteorológico. Como assinalava uma reportagem de 2003 da National Geographic, "há troços estéreis e intimidatórios onde nunca foi registada chuva, pelo menos desde que os homens a medem".
Nada mudou entretanto. Não há vivalma que resista por ali. Nem cobras, nem lagartos, nem escorpiões, bichos que se dão bem no deserto. A descoberta de bactérias na região de Quillagua, no ano passado, apanhou de surpresa a comunidade científica, que acreditava na impossibilidade de um ser vivo aguentar as condições extremas do lugar - o mais parecido de todos com Marte, de acordo com vários cientistas. Também não há vegetação de qualquer tipo e muito menos flores, que no entanto fizeram uma aparição de arromba em 2014, numa área menos árida do Atacama, quando a chuva irrigou a terra e se deu um pequeno milagre. Por ser um fenómeno raro por ali, o campo colorido de flores mereceu atenção mediática dos Estados Unidos à Europa.